Esse texto (em inglês) da escritora e editora Dominique Browning para o New York Times está rodando a internet há alguns dias. Nele, a autora defende o direito de ter cabelo comprido aos 55 anos. Cabelo comprido e grisalho.
Ela lista uma série de críticas que são feitas a ela por manter as madeixas longas. De “você está querendo se esconder” a “isso atrapalha a sua credibilidade profissional”. De fato espera-se das mulheres de “meia-idade” que elas cortem o cabelo. No máximo na altura dos ombros. Velha mesmo, de 70 para cima, melhor que corte curto.
Para “piorar”, Dominique não tinge o cabelo.
Ela está fazendo tudo ao contrário do esperado e é justamente por isso que seu texto está circulando tanto. No domingo, o correspondente do Estado Gustavo Chacra, do blog De Beirute a Nova York, postou esse link no Facebook. Em seguida, uma amiga dele comentou: “Já as mulheres brasileiras continuam com fobia de cabelo curto”. É fato que é muito mais fácil achar mulheres de cabelos compridos do que mulheres de cabelos curtos, basta olhar a seu redor.
Eu acho bem mais difícil ter cabelo comprido do que curto. E não é pelo trabalho que dá nem nada disso. Mas porque o cabelo comprido tem uma sensualidade constante, parcialmente domada quando preso. Mas há um constante sinal de sensualidade. E você tem de lidar com isso, mesmo que não perceba.
Meu palpite é que é por isso que espera-se das mulheres mais velhas que elas cortem o cabelo. Para esse mundo careta, mulheres mais velhas, mães, avós, não rimam com sensualidade. No final de seu texto, Dominique lista a última das acusações feitas a ela por manter a cabeleira:
“Homens gostam de cabelo comprido”. Espera. Você diz isso como uma acusação? Cabelo comprido é arquetípico. E todo mundo sabe que arquétipos são emaranhados de desejo. É por isso que sereias e bruxas têm cabelo comprido. Bailarinas também. Todo mundo conhece a Rapunzel e como ela fica lá sentada na sua torre solitária, com a trança comprida pendurada pela janela, até que o príncipe escale seus cabelos para resgatá-la. Ou engravidá-la, de acordo com a versão que você leu. De um jeito ou de outro, funcionou.
É comum mulheres serem criticadas por outras mulheres por usarem ou adotarem coisas de que os homens gostam. Saia curta, decotão, cabelo comprido… junte tudo isso e mostre para um grupo de mulheres, a resposta vem em um segundo: piriguete. Não é que eu defenda que as mulheres se vistam exclusivamente para agradar aos homens. Mas também não acho que é preciso ir ao extremo oposto. E, muito menos, julgar quem escolhe se enfeitar com esse objetivo.
Tags: cabelo, Crítica de Segunda, Heloisa Lupinacci
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