Por um cabelo longo e grisalho na meia-idade por Heloisa Lupinacci Seção: CRÍTICA DE SEGUNDA 25.outubro.2010 17:57:42
Esse texto (em inglês) da escritora e editora Dominique Browning para o New York Times está rodando a internet há alguns dias. Nele, a autora defende o direito de ter cabelo comprido aos 55 anos. Cabelo comprido e grisalho.
Ela lista uma série de críticas que são feitas a ela por manter as madeixas longas. De “você está querendo se esconder” a “isso atrapalha a sua credibilidade profissional”. De fato espera-se das mulheres de “meia-idade” que elas cortem o cabelo. No máximo na altura dos ombros. Velha mesmo, de 70 para cima, melhor que corte curto.
Para “piorar”, Dominique não tinge o cabelo.
Ela está fazendo tudo ao contrário do esperado e é justamente por isso que seu texto está circulando tanto. No domingo, o correspondente do Estado Gustavo Chacra, do blog De Beirute a Nova York, postou esse link no Facebook. Em seguida, uma amiga dele comentou: “Já as mulheres brasileiras continuam com fobia de cabelo curto”. É fato que é muito mais fácil achar mulheres de cabelos compridos do que mulheres de cabelos curtos, basta olhar a seu redor.
Eu acho bem mais difícil ter cabelo comprido do que curto. E não é pelo trabalho que dá nem nada disso. Mas porque o cabelo comprido tem uma sensualidade constante, parcialmente domada quando preso. Mas há um constante sinal de sensualidade. E você tem de lidar com isso, mesmo que não perceba.
Meu palpite é que é por isso que espera-se das mulheres mais velhas que elas cortem o cabelo. Para esse mundo careta, mulheres mais velhas, mães, avós, não rimam com sensualidade. No final de seu texto, Dominique lista a última das acusações feitas a ela por manter a cabeleira:
“Homens gostam de cabelo comprido”. Espera. Você diz isso como uma acusação? Cabelo comprido é arquetípico. E todo mundo sabe que arquétipos são emaranhados de desejo. É por isso que sereias e bruxas têm cabelo comprido. Bailarinas também. Todo mundo conhece a Rapunzel e como ela fica lá sentada na sua torre solitária, com a trança comprida pendurada pela janela, até que o príncipe escale seus cabelos para resgatá-la. Ou engravidá-la, de acordo com a versão que você leu. De um jeito ou de outro, funcionou.
É comum mulheres serem criticadas por outras mulheres por usarem ou adotarem coisas de que os homens gostam. Saia curta, decotão, cabelo comprido… junte tudo isso e mostre para um grupo de mulheres, a resposta vem em um segundo: piriguete. Não é que eu defenda que as mulheres se vistam exclusivamente para agradar aos homens. Mas também não acho que é preciso ir ao extremo oposto. E, muito menos, julgar quem escolhe se enfeitar com esse objetivo.
Tags: cabelo, Crítica de Segunda, Heloisa Lupinacci
sem comentários // comente!
Ela lista uma série de críticas que são feitas a ela por manter as madeixas longas. De “você está querendo se esconder” a “isso atrapalha a sua credibilidade profissional”. De fato espera-se das mulheres de “meia-idade” que elas cortem o cabelo. No máximo na altura dos ombros. Velha mesmo, de 70 para cima, melhor que corte curto.
Para “piorar”, Dominique não tinge o cabelo.
Ela está fazendo tudo ao contrário do esperado e é justamente por isso que seu texto está circulando tanto. No domingo, o correspondente do Estado Gustavo Chacra, do blog De Beirute a Nova York, postou esse link no Facebook. Em seguida, uma amiga dele comentou: “Já as mulheres brasileiras continuam com fobia de cabelo curto”. É fato que é muito mais fácil achar mulheres de cabelos compridos do que mulheres de cabelos curtos, basta olhar a seu redor.
Eu acho bem mais difícil ter cabelo comprido do que curto. E não é pelo trabalho que dá nem nada disso. Mas porque o cabelo comprido tem uma sensualidade constante, parcialmente domada quando preso. Mas há um constante sinal de sensualidade. E você tem de lidar com isso, mesmo que não perceba.
Meu palpite é que é por isso que espera-se das mulheres mais velhas que elas cortem o cabelo. Para esse mundo careta, mulheres mais velhas, mães, avós, não rimam com sensualidade. No final de seu texto, Dominique lista a última das acusações feitas a ela por manter a cabeleira:
“Homens gostam de cabelo comprido”. Espera. Você diz isso como uma acusação? Cabelo comprido é arquetípico. E todo mundo sabe que arquétipos são emaranhados de desejo. É por isso que sereias e bruxas têm cabelo comprido. Bailarinas também. Todo mundo conhece a Rapunzel e como ela fica lá sentada na sua torre solitária, com a trança comprida pendurada pela janela, até que o príncipe escale seus cabelos para resgatá-la. Ou engravidá-la, de acordo com a versão que você leu. De um jeito ou de outro, funcionou.
É comum mulheres serem criticadas por outras mulheres por usarem ou adotarem coisas de que os homens gostam. Saia curta, decotão, cabelo comprido… junte tudo isso e mostre para um grupo de mulheres, a resposta vem em um segundo: piriguete. Não é que eu defenda que as mulheres se vistam exclusivamente para agradar aos homens. Mas também não acho que é preciso ir ao extremo oposto. E, muito menos, julgar quem escolhe se enfeitar com esse objetivo.
Tags: cabelo, Crítica de Segunda, Heloisa Lupinacci
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Direito ao Palavrão – Millôr Fernandes
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos.
É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia. Sem que isso signifique a “vulgarização” do idioma, mas apenas sua maior aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus sentimentos, suas emoções, seu jeito,sua índole.
“Pra caralho”, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que “Pra caralho”? “Pra caralho” tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via- Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho, entende?
No gênero do “Pra caralho”, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso “Nem fodendo!”. O “Não, não e
não!” e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não! “o substituem. O “Nem fodendo” é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
não!” e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade “Não, absolutamente não! “o substituem. O “Nem fodendo” é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos, presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicínio.
Por sua vez, o “porra nenhuma!” atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele chefe idiota senão com um “é PhD porra nenhuma!”, ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O “porra nenhuma”, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha. São dessa mesma gênese os clássicos “aspone”, “chepone”, “repone” e, mais recentemente, o “prepone” – presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um “Puta-que-pariu!”, ou seu correlato “Puta-que-o- pariu!”, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba… Diante de uma notícia irritante qualquer um “puta-que-o-pariu!” dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso “vai tomar no cú!”? E sua maravilhosa e reforçadora derivação “vai tomar no olho do seu cú!”.Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando,passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: “Chega! Vai tomar no olho do seu cú!”. Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento batendo na face,olhar firme,cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: “Fodeu!”. E sua derivação mais avassaladora ainda: “Fodeu de vez!”. Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? “Fodeu de vez!”.
Sem contar que o nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de “foda-se!” que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do “foda-se!”? O “foda-se!” aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. “Não quer sair comigo? Então foda-se!”. “Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!”. O direito ao “foda-se!” deveria estar assegurado na Constituição Federal. Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!. Grosseiro, mas profundo…
Pois se a lingua é viva, inculta, bela e mal-criada, nem o Prof. Pasquale explicaria melhor. “Nem fodendo…”
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