Slowblog – no daily news – não tem novidades diárias – slow everythinG


Agradecimento – Wislawa Szymborska

Devo muito
aos que não amo.

O alívio de aceitar
que sejam mais próximos de outrem.

A alegria de não ser eu
o lobo de suas ovelhas.

A paz que tenho com eles
e a liberdade com eles,
isso o amor não pode dar
nem consegue tirar.

Não espero por eles
andando da janela à porta.
Paciente
quase como um relógio de sol,
entendo o que o amor não entende,
perdoo,
o que o amor nunca perdoaria.

Do encontro à carta
não se passa uma eternidade,
mas apenas alguns dias ou semanas.

As viagens com eles são sempre um sucesso,
os concertos assistidos,
as catedrais visitadas,
as paisagens claras.

E quando nos separam
sete colinas e rios
são colinas e rios
bem conhecidos dos mapas.

É mérito deles
eu viver em três dimensões,
num espaço sem lírica e sem retórica,
com um horizonte real porque móvel.

Eles próprios não veem
quanto carregam nas mãos vazias.

"Não lhes devo nada" -
diria o amor
sobre essa questão aberta.










Dan Perjovshi

Encontros Procure o descanso após o salto: performance por Angie Keefer


Angie Keefer é escritora, artista, editora, engenheira amadora e, ocasionalmente, bibliotecária. Como prelúdio do encontro Práticas da auto-representação por meio da publicação, que acontece dia 23, a artista, junto a um mágico, apresenta uma performance baseada no relato abaixo:

“Neste verão passei uma semana dirigindo de Nova York para o Alabama para visitar o lugar de nascimento de Helen Keller, cuja biografia tenho pesquisado para um filme sobre ‘falar através de outros’. No caminho meu carro quebrou. Tive que passar uma noite em Harrisonburg, Virginia, esperando a oficina mecânica abrir na manhã seguinte. Este incidente em si é de pouca importância, assim como o fato de que, no dia seguinte, enquanto os mecânicos estavam instalando novas velas de ignição, caminhei até um centro comercial onde pedi um café em uma pequena cafeteria. Me sentei do lado de fora com meu café, numa mesa embaixo de um toldo, à frente de um estacionamento comum, quase deserto. Um carro passou lentamente. Depois de alguns minutos, a lentidão me irritou. Porque ficar ali por tanto tempo, gastando gasolina? Além disso, aquilo era estranho. Porque não estacionar e sair do carro ou simplesmente ir embora? Reparei que a placa do carro era GR8 TRIX, e pude ver através do vidro traseiro um adesivo transparente colado por cima da luz de freio que dizia ‘Got Magic?’, como o famoso slogan ‘Got Milk?’. Havia um homem dentro do carro. Ele usava óculos escuros. Desconfiei que ele era um mágico. Presumi que encontrar um mágico em um estacionamento de uma pequena e mundana cidade na Virgínia era algum tipo de sinal, então andei até o carro e bati na janela. Depois de um momento de hesitação, ele abaixou o vidro alguns centímetros. Eu perguntei ‘Você é mágico?, baixando um pouco mais o vidro ele respondeu ‘Prefiro o termo i-lu-si-o-nis-ta.’ Ele mexeu a boca de uma maneira exagerada e pronunciou a palavra vagarosamente, como se quisesse sugerir algo além do óbvio. Conversamos durante cerca de meia hora sobre o seu trabalho. Me perguntei como ele entrou neste negócio e o que é necessário para ser um ‘i-lu-si-o-nis-ta’ de sucesso. Perguntei a ele o que leva pessoas a acreditar em algo que elas sabem que é claramente falso. Ele respondeu ‘Ah, esta é a parte fácil. É a estrutura narrativa. Depois que as pessoas já estão envolvidas na história, eles querem acreditar, e por isso acreditam. Todas as vezes.’ Depois disso ele me mostrou um truque. Fez com que bolinhas de borracha desaparecessem de suas mãos e aparecessem nas minhas. Começou com uma, depois duas, depois três. No final, ele me entregou o seu cartão, que guardei, para não ter dúvidas de que o encontro realmente aconteceu.”

Angie Keefer também estará no simpósio Práticas da auto-representação por meio da publicação, no dia 23 de setembro as 15h no Lounge Bienal.

Esse evento conta com a parceria cultural do b_arco.

Lotação: 50 pessoas
Distribuição de senhas no local 1h antes do evento Entrada gratuita.
Informações: +55 11 3081.6986
contato@bienal.org.br
www.obarco.com.b
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YES - Derrida on Joyce

the question of the 'yes'. In my short essay on Joyce I tried to deal only with the word 'yes' as it was...performed, so to speak, in Ulysses; and I tried to show how all the paradoxes which are linked to this question of the 'yes'...this has to do with the fact that deconstruction is a 'yes', is linked, is an affirmation. When I say 'yes' - as you know, 'yes' is the last word in Ulysses - when I say 'yes' to the other in the form of a promise or an agreement or an oath, the 'yes' must be absolutely inaugural. In relation to the theme today, inauguration is a 'yes', I say 'yes' as a starting point, nothing precedes the yes, the yes is the moment of the institution, the origin; it's absolutely originary. But when you say 'yes', if you don't imply that the moment after that you will have to confirm the 'yes' by a second 'yes' - when I say 'yes', I immediately say 'yes, yes' - I commit myself to confirm my commitment in the next second, and tomorrow and after tomorrow and so on, which means that the 'yes' immediately duplicates itself, doubles itself. You cannot say 'yes' without saying 'yes, yes', which implies memory in the promise; I promise to keep the memory of the first yes and when you, in a wedding for instance, in a performative, in a promise, when you say 'yes, I agree, I will' you imply, 'I will say 'I will' tomorrow and I will confirm my promise', otherwise there is no promise. Which means that the 'yes' keeps in advance the memory of its own beginning. That's the way it's a different word. If tomorrow you don't confirm that you have founded today your program you will not have any relation to it. 

Tomorrow, perhaps next year, perhaps twenty years from now we will - if today there has been any inauguration; we don't know yet, we don't know, we can't today, where I am speaking... who knows? So 'yes' has to be repeated, and immediately, immediately it implies what I call 'iterability', it implies the repetition of itself. Which is a threat, which is threatening at the same time because the second yes may be simply a parody or a record or mechanical repetition; it may say 'yes, yes' like a parrot, which means that the technical reproduction of the originary 'yes' is from the beginning threatening to the living origin of the 'yes', which means that the 'yes' is hounded by its own ghost, its own mechanical ghost, from the beginning. Which means that the second 'yes' will have to reinaugurate, to reinvent the first one. If tomorrow you don't reinvent today's inauguration... it will have been dead. Every day the inauguration has to be reinvented. So that's one thing. 

Midway in the Journey

Midway in the journey of our life I came to myself in a dark wood, for the straight way was lost. Ah, how hard it is to tell the nature of that wood, savage, dense and harsh – the very thought of it renews my fear. Dante. Vol.1 Inferno